No início da
noite do dia 25 abril de 2019, o programa pós-graduação em Educação Matemática
e a coordenação do curso de Matemática diurno da UFJF, proporcionaram aos seus
alunos um encontro muito especial, com o Professor Ubiratan D’Ambrosio.
Uma palestra exclusiva para os
alunos do mestrado em Educação Matemática e da licenciatura em Matemática. Um
momento, digamos, único para formação inicial e continuada nesta grande área do
saber.
O que nos move a buscar esses
encontros são as várias questões que permeiam a formação de professores,
principalmente de professores de matemática: O que é ser professor de
matemática? O que é matemática efetivamente? Como desenvolver uma matemática
que visa a promoção da cidadania e o desenvolvimento das capacidades criativas?
Tenho a convicção de que esses questionamentos acompanham a formação tanto
inicial, quanto continuada, isto é, esses questionamentos fazem parte do
processo de reconhecimento da profissão docente.
Neste encontro, Ubiratan nos fez
repensar o papel da escola, do professor e da própria matemática enquanto
ciência (do ponto de vista acadêmico) e da matemática como meio de desenvolvimento
social (do ponto de vista prático). Esses papeis têm que estar relacionado a
duas palavras, um tanto quanto especiais, humildade e respeito. Saber
ouvir, perceber as diferenças, vivenciar a plenitude da diversidade, faz parte
desse universo sociocultural.
“A pseudo-educação da nobreza, de
grupos clericais, do Ensino Domiciliar leva à mesmice, não dá
oportunidade ao novo”. “O conhecimento só é possível no encontro com os
diferentes, no reconhecimento de que todos são seres humanos” argumenta
Ubiratan. Uma ação educativa deve voltar-se para uma ação que visa a
recuperação de formas de saber e de fazer de grupos culturais distintos, e isto
envolve famílias, comunidades, profissões, que tem suas maneiras próprias de
comparar, classificar, ordenar, medir, quantificar, inferir, etc.. Cada
manifestação dessa é uma Etnomatemática, na visão do Ubiratan, que tem
como objetivo maior reconhecer e organizar essas diferentes maneiras de lidar
com a evolução de conceitos matemáticos próprios nas diversas culturas. “Por
cultura eu entendo um complexo de manifestações práticas e teóricas visando
sobreviver no dia-a-dia e indo além da sobrevivência, lidando com mitos,
espiritualidade, religião, arte, língua, fantasia e muitas outras formas de
reflexão intelectual” afirma o professor.
“Há conteúdos demais e aprendizagem
de menos”, disserta Ubiratan, e isso torna a matemática desinteressante,
obsoleta e inútil. O contexto sociocultural é um fator a ser considerado na
Matemática e na Educação Matemática também. O professor de matemática tem na
sua disciplina o instrumento necessário para fazer uma análise crítica do que
está se passando na sociedade. Lembra Ubiratan que o debate sobre a reforma da
previdência dá uma grande oportunidade para compreendermos o que efetivamente são
os grandes números que aparecem nas discussões e como isto pode ser
interpretado no âmbito da sociedade de uma forma geral.
Ubiratan nos alerta que a Educação Matemática
tem que ser um instrumento de crítica que leve à reflexão sobre a realidade.
Este alerta baseia-se na constatação de que a escola está longe de mobilizar o
potencial de aprendizagem dos alunos, por mais que tenha havido pequenas
mudanças ao longo do tempo.
O professor Ubiratan termina dizendo
que “É precioso conhecer o ambiente cultural, social, econômico, emocional,
psicológico do alunos; o professor tem que ter humildade necessária para
ouvir e ver o diferente e tem que ter respeito pelo que ouviu e viu do
diferente”.
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